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Fanfiction, Fan fiction, Fanfic, fic... Afinal, o que é isso?

Se você gosta e frequenta sites de críticas e notícias sobre séries de televisão, alguma vez já se deparou com um termo comum nesse mundinho: fanfics. As fanfics são narrativas ficcionais escritas por fãs. Sabe, aquela série que você começou a ver, se apaixonou, mas infelizmente foi cancelada, por baixa audiência? Nas fanfics, ela tem sobrevida.

 

De acordo com historiadores, há registros de fanfics no século XVII, com versões não autorizadas de Dom Quixote escritas por um fã sob o pseudônimo de Alonso Fernández Avellaneda. As histórias foram publicadas antes mesmo de Miguel de Cervantes escrever a segunda parte da obra (1615) e, obviamente, não foram bem recebidas. Entretando, a atitude de Avellaneda motivou Cervantes a dar encerramento às aventuras de Dom Quixote de La Mancha na literatura.

 

De lá pra cá, muitas coisas mudaram. De acordo com o pesquisador Henry Jenkins, no livro Cultura da Convergência (2008), as fanfics passaram a tirar o sono de George Lucas, criador e diretor da franquia Star Wars (na realidade, inspirada em contos mitológicos). Em busca do controle total de sua criação, muitas vezes Lucas costuma aplicar multas e derrubar sites de fanfics por entender que este tipo de produção textual não está de acordo com o universo da franquia.

 

Outro célebre caso na indústria midiática é o da franquia Harry Potter. O estúdio Warner Bros por diversas vezes puniu fãs que resolveram compartilhar suas experiências e expandir o mundo mágico do bruxinho em fanfics. De acordo com o pesquisador Daniel David Alves da Silva, as fanfictions deveriam ser encaradas como instrumentos de aprendizagem. “São ótimos exercícios criativos e fixadores de conteúdo. O professor tem em mãos a possibilidade de tornar o assunto mais atraente, conquistar a atenção do aluno e ainda fazê-lo exercitar leitura e escrita”, argumenta.

 

Narrativas ficcionais escritas por fãs possuem variadas formas. Há aqueles que escrevem suas histórias inserindo personagens originais; há quem mistura personagens de séries distintas; há aquele que criam um casal que nunca aconteceu na série; há quem decida contar o que o autor original resolveu segregar. “A receita para uma boa fanfic é sempre carregar resquícios da obra original. Fazer com que o leitor enxergue os personagens e seu universo sem fazer muito esforço (mesmo quando o gênero da fanfic não corresponder ao da fonte). O diferente está nos rumos que os personagens podem tomar.  A fanfic deve ser uma caixinha de surpresa!”, defende Daniel.

 

Antes do advento da internet, eram populares as chamadas fanzines, revistas redigidas, editadas e impressas por fãs e uma das formas primitivas de fanfictions. Isso vigorou entre 1970 e 1990, no Brasil. Mas, a escrita colaborativa logo deu margem a compartilhamentos de diversos tipos. Exemplos não faltam. A fita cassete com músicas gravadas direto da rádio que seu pai deu de presente para sua mãe, o vídeo cassete que gravava direto o programa preferido do seu tio, e por aí vai.

 

Hoje, há uma infinidade de formas de criação e compartilhamento, que os fãs aproveitam para professar o amor ou o ódio a algum produto cultural. "É impossível pensar nos fandoms sem a internet. Tudo começou com os fanzines do Star Trek (Jornadas nas Estrelas) e hoje nós temos até vídeos com possíveis finais para filmes ou séries. Focando nas fanfics, temos não só a escrita colaborativa, mas também o compartilhamento, armazenamento em nuvens e divulgação das narrativas produzidas por eles", completa Daniel.

 

A estudante de jornalismo Katiúscia Vianna adora ler histórias escritas por fãs e participa de sites de fanfics. Conhecer essa escrita criativa na adolescência permitiu-a ter outra visão a respeito da cultura de fãs. "Tornou-se não só um lugar de amor a uma série, banda ou filme, mas, um belo espaço onde novos talentos podem surgir. Lá você pode experimentar e é incentivado a isso", conta. 

 

Embora os grandes conglomerados de mídia estejam, aos poucos, mais permissivos com as comunidades de fãs, é sempre bom reforçar que tais iniciativas não visam o lucro, muito menos macular a obra original. "As fanfics não são uma tentativa de plágio ou forma de 'se aproveitar' de algo já criado. São uma declaração de amor ao objeto ali retratado. E é uma forma divertida de distrair a cabeça. Há fanfics melhores que muita novela das 9", conclui Katiúscia. 

 

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